sexta-feira, 30 de março de 2018

A Inteligência do casamento VII - a guerra dos sexos

Artigo de André Soares - 30/03/2018

 
Uma das finalidades gramaticais do emprego das “aspas”  no idioma português é destacar uma expressão que deve ser compreendida em sentido figurado, ou metafórico. É por isso que pessoas instruídas, assim como você, quando se referem especialmente ao relacionamento sexual entre homens e mulheres, fazem questão de colocar entre aspas a expressão: guerra dos sexos. Afinal, todos entendem que a palavra – guerra – inserida nessa expressão, corresponde à figura de linguagem conhecida como hipérbole, que nada mais é que uma exacerbação irreal e proposital em um determinado conceito para defini-lo por dramaticidade, não é mesmo? Mas, observe agora e mais atentamente que, diferentemente de você e do consenso geral, tenho todo o cuidado em escrever sem aspas a famosa expressão - guerra dos sexos. Por que? Porque a verdade verdadeira sobre a guerra dos sexos, em qualquer situação ou circunstância, inclusive no casamento, é de uma eterna guerra real e sistemática entre homens e mulheres.

Quer dizer então que na guerra dos sexos homens e mulheres podem ser considerados inimigos? A bem da verdade e guardadas as devidas proporções, sim. E que fique bem claro: inimigos, sem aspas. Porque a inexorabilidade dessa guerra ocorre entre machos e fêmeas, em todo reino animal; e não há exceção. Ou será que você ainda acha que o fator determinante da atração sexual entre os gêneros é o amor? A não ser que esse “amor” seja escrito entre aspas, para designar o seu verdadeiro significado: testosterona. Porque, goste-se ou não, o único elemento determinante do real interesse de homens por mulheres e de machos por fêmeas é o sexo, o qual é determinado exclusivamente por este hormônio.

Assim, a cópula sexual entre homens e mulheres não é uma união de corpos demandada pela magnanimidade do romantismo, ou por uma suposta comunhão de auspiciosos propósitos dos casais. Porque, no “jogo” sexual, homens e mulheres não são aliados em prol de um bem maior. Ao contrário, a guerra dos sexos é um contexto evolucionista em que ambos os gêneros empregam estratagemas insidiosos, sub-reptícios e mesquinhos, objetivando o seu máximo benefício, em detrimento da outra parte. Pois a natureza do sexo, em todo o reino animal, é preponderantemente individualista e egoísta, no qual cada parceiro(a) utiliza o seu contraposto apenas como meio para a obtenção exclusiva do seu próprio prazer, bem como de outros interesses inconfessáveis.

Exatamente por isso, somente excepcionalmente no mundo animal o sexo é consensual. Pois, nesse contexto, o sexo majoritariamente corresponde ao que nosso ordenamento jurídico tipifica como crime de estupro, com o concurso de lesões corporais para a fêmea, em muitas das vezes. Nesse mister, é importante destacar também que, na fraticida guerra dos sexos, em muitas espécies a fêmea mata impiedosamente seu parceiro, imediatamente após alcançar seus objetivos no ato sexual. E esse fenômeno estupratório e homicida, que é inerente à guerra dos sexos, só não ocorre nessas mesmas proporções no universo dos seres humanos, por conta do contexto sócio-politico-jurídico-punitivo no qual ele está inserido; que consegue reprimi-lo, embora não completamente.

Vale ressaltar que a guerra dos sexos é ainda mais perversa no âmbito conjugal, notadamente quanto ao sexo prazeroso. Porque, se em toda guerra inescapavelmente há vencedores e vencidos, na guerra dos sexos matrimonial em busca do prazer é pior: porque ambos os cônjuges sempre perdem. É por isso que, comparativamente com a vida extraconjugal, o sexo no casamento é absolutamente uma tragédia, sem exceções. E os cônjuges que alardearem publicamente o contrário, estarão mentindo raivosamente sobre sua infelicidade sexual conjugal, ou para encobrir o seu velado adultério.

Mas as contingências sofridas por homens e mulheres na interminável guerra dos sexos extrapolam o contexto sexual, alcançando outras searas conflituosas dessa inter-relação, que abordarei em outras oportunidades. Até porque, verdade seja dita, o que caracteriza a relação entre homens e mulheres são suas inúmeras diferenças, não suas raras afinidades. Portanto, por mais terrível que possa parecer, a inexorável guerra dos sexos predestina os interesses de homens e mulheres ao conflito, não à paz e à harmonia. E por mais estranho e irracional que também possa parecer, a guerra dos sexos consiste na maior sabedoria da natureza. Porque essa é a lógica da vida. Louvemos, então, a guerra dos sexos. E que essa guerra nunca tenha paz. Viva! Viva! Viva!

domingo, 25 de março de 2018

Abraçadin ...


Agentes secretos III - Abraçadin ...
Poesia de André Soares - 24/03/2018




Você perguntou

Por que sou assim

E vivo sozin ...



Assim, sem amor

Assim, sem ninguém

Assim, assim ...



Por que a solidão?

Por que tanta dor?

Se eu quero meu fim? ...



Mas, digo que não

Meu mundo é viver

Plantando um jardim ...


Viver o amor

Se for por paixão

De quem gosta de mim ...



Sentindo o viver

Vibrando o prazer

Abraçadin ...






A epidemia da futilidade


Artigo de André Soares - 24/03/2018

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O mundo vive um paradoxo terrível. Enquanto a produção do conhecimento e a tecnologia avançam exponencialmente, facilitando a vida de todos; contrariamente e na mesma proporção a humanidade está cada vez mais doente. Não do corpo, mas da mente. Nesse sentido, embora a maioria desconheça, estamos vivendo na atualidade a "crise do século XXI", ou "mal do século", que é a pandemia de doenças e transtornos mentais, cuja projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê se tornar até 2030 a patologia mais prevalente no planeta, à frente do câncer e algumas doenças infecciosas. Estresse, ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”, síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável coquetel de problemas psicológicos da vida moderna, que estão lotando os consultórios psicológicos e psiquiátricos, cada vez mais repletos de homens, mulheres e crianças, fragilizados e doentes da psique.  E a epidemia da futilidade é mais uma das manifestações do "mal do século".

Mas, o que é futilidade? É a fraqueza pessoal de cultuar e dar importância exatamente ao que não é importante ou essencial. É valorizar o que é superficial, acessório, irrelevante, efêmero, insignificante, inútil. Pessoas fúteis são banais, frívolas, triviais, vulgares, medíocres, desprezíveis e levianas. E são assim porque são egoístas, querendo viver às expensas dos outros e do mundo. Nesse sentido, pensando única e exclusivamente em si mesmas, sobrevivem como especialistas no ardil de enganar a todos, priorizando a atividade-meio em detrimento da atividade-fim, invertendo assim a lógica da vida. Consequentemente, por serem mentalmente doentes, com falhas de caráter e improdutivas, constituem-se em pária da sociedade, representando elevado ônus social, sob todos os aspectos.

Evidentemente que pessoas fúteis somente encontram terreno fértil em sociedades igualmente doentes e naturalmente fadadas ao naufrágio pátrio. Esse é o contexto em que a epidemia da futilidade vem se alastrando e contaminando especialmente o mundo ocidental, no qual o Brasil já está na UTI, há tempos. E o grave colapso nacional de corrupção generalizada é a prova mais cabal de como a sociedade brasileira está cada vez mais fútil e doente.

Verdade seja dita, lembremos que historicamente o Brasil foi alcunhado internacionalmente, desde a II guerra mundial, por “não ser um país sério”; ressaltando-se que a pusilânime sociedade brasileira ainda se regozija da sua abjeta subcultura do “jeitinho brasileiro”; que certamente pode ser consagrado como o melhor “slogan” para a “epidemia da futilidade” que acomete e destrói o país.

Nesse momento, cabe aqui registrar o magnânimo reconhecimento ao notável cantor e compositor Zé Rodrix; que, com magistral maestria, diagnosticou com inigualável talento e bom-humor, em sua memorável canção “soy latino americano”, a “epidemia da futilidade” da qual se orgulha a inepta sociedade brasileira, que inescapavelmente demandará a desgraça nacional, ao dizer:

“...Meu caminho pro trabalho é um pouco mais comprido. Eu vou sempre pela praia, que é muito mais divertido. Chego sempre atrasado, mas eu não corro perigo. Quem devia dar o exemplo, chega atrasado comigo...”


sábado, 17 de março de 2018

O perfil da mulher ideal


A Inteligência do casamento VI - "O perfil da mulher ideal"
Artigo de André Soares - 17/03/2018
 

 
 
Ao reiterar veementemente a verdade inconveniente que “casamentos não dão certo, nem mesmo por amor”, não significa, em hipótese alguma, que este autor esteja fazendo apologia contra o casamento. Absolutamente! Até porque outra das verdades inexoráveis sobre o casamento, que também venho alardeando, é que “casamentos são inevitáveis”. Contudo, a absoluta maioria das pessoas, incluindo-se os homens, persiste no grave erro de fugir da realidade dos fatos que comprovam inquestionavelmente que o fracasso é a regra geral em cerca de 95% dos casamentos, se autoenganando que o seu casamento será bem-sucedido, quando também incorrem nas mesmas falhas dos casamentos fracassados. Nesse sentido, muitos são os erros e equívocos cometidos por homens e mulheres que levam ao insucesso no casamento. E aqui vou destacar um gravíssimo deles, que é cometido exclusivamente pelos homens. Trata-se do perfil da mulher ideal, cujo modelo equivocado é universalmente idealizado pelos homens, em todos os tempos.
 
O perfil da mulher ideal, concebido equivocadamente pela mentalidade masculina, o qual é sobejamente conhecido pelas próprias mulheres desde Adão e Eva, é sintetizado em inúmeras expressões idiomáticas pelo mundo; que, no Brasil, é mais comumente conhecido como: “mulher gostosa” (e quanto mais “gostosa” melhor).
 
Diferentemente das mulheres que idealizam infindáveis atributos ao seu também equivocado perfil de homem ideal, por outro lado os homens idealizam outros importantes atributos ao perfil da mulher ideal, conquanto sejam poucos e todos coadjuvantes. Porque é crucial saber que, se uma mulher tiver os mais notáveis atributos possíveis, mas não for “gostosa” – então está fora do perfil da mulher ideal. Trata-se de um determinismo da natureza masculina, presente em todas as espécies do planeta, que faz do sexo o único e especial atrativo que desperta o interesse de homens e machos por mulheres e fêmeas. E repito, as mulheres sabem muitíssimo bem, e desde a mais tenra infância, que os homens são escravos do sexo.
 
Portanto, justifica-se plenamente a obsessão que as mulheres têm, especialmente pela beleza física do seu corpo. Afinal, quando melhor for sua estética corporal aos olhos masculinos, maiores serão as suas chances de atrair um bem-sucedido provedor testosterona-dependente, idiota qualquer.
 
Contudo, o equívoco desse perfil de mulher ideal, que demanda o escabroso fracasso dos homens no casamento, não é a escolha do atributo da maximização da estética corporal feminina, em busca do sexo. Ao contrário, o atributo da “mulher quanto mais gostosa melhor” está certíssimo. Não há nada de errado nesse universal e absoluto determinismo masculino, inerente ao processo seletivo bio-fisiológico da natureza, graças ao qual se mantém a sobrevivência e perpetuação não apenas da humanidade, mas também das demais espécies do planeta.
 
O equívoco desse perfil de mulher ideal demanda da condição masculina testosterona-dependente que domina completamente o tirocínio dos homens, fazendo-os transformar o sexo em atividade-fim, quando este na verdade é atividade-meio. Trata-se de uma insidiosa e bem-sucedida estratégia da natureza, que transforma homens e machos em reprodutores obsessivo-compulsivos por ejacular no máximo de parceiras possíveis. Convenhamos, e verdade seja dita, a natureza tem compromisso com propósitos mais nobres que proporcionar felicidade ao casamento de homens e mulheres, não é mesmo?
 
Portanto, o equívoco desse perfil de mulher ideal, concebido pelos homens, está na sua incapacidade de elencar os demais atributos femininos que são tão determinantes para o sucesso no casamento, quanto o sexo.
 
Quais são esses atributos?
 
Como frisei anteriormente, são poucos. Mas devo dizer também que as mulheres que os incorporam plenamente são raríssimas: verdadeiros “diamantes de sangue”. E esses atributos estão sintetizados no decálogo da mulher operacional, a saber:

  • Ser a magia da arte;
  • Ter a coragem de enfrentar a verdade e aceitá-la;
  • Ser independente e autônoma;
  • Aprimorar-se intelectualmente;
  • Decidir com sabedoria;
  • Viver com liberdade e rebeldia;
  • Amar com a própria vida;
  • Apaixonar-se por um homem operacional;
  • Ter excelente condição física e de tiro;
  • Ser inteligentemente bela, sempre. E por toda a vida.
 
Por fim, ressalta-se que, a despeito da seletividade do perfil da mulher ideal, de outra parte, a verdade é que os homens são absolutamente despreparados para o casamento. Nesse mister, valho-me das sábias e bem-humoradas palavras de Luis Fernando Verissimo que, mais uma vez, foi célebre ao dizer que: “os homens partem para o casamento, achando que sabem escolher uma mulher, quando ainda nem sabem escolher uma gravata”.
 

         


quinta-feira, 15 de março de 2018

Adapte-se ou morra!

Artigo de André Soares - 15/03/2018

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Adapte-se ou morra. A teoria evolucionista de Charles Darwin pode ser assim sintetizada. Goste-se ou não, ela é universal, verdadeira e válida para todas as espécies no planeta. Significa que a sobrevivência de toda e qualquer forma de vida impõe a necessidade de sua evolução. Assim, as espécies que evoluem sobrevivem, e as que não perecem e são extintas da face da terra. Simples assim. Nesse sentido, a humanidade se sente cada vez mais tranquilizada, no sentido de que sua sobrevivência e perpetuação estão cada vez mais asseguradas. Visto que, de todas as espécies existentes no planeta, os seres humanos são os mais evoluídos. Mas, nesse momento, cabe a seguinte pergunta: Será?
 
Será que o ser humano de hoje é necessariamente mais evoluído que o do passado? Bem, se a teoria evolucionista estiver correta - e está - então o ser humano da atualidade é necessariamente mais evoluído que seus ancestrais. Até porque, em caso contrário, obviamente a humanidade estaria extinta. Portanto, se estamos todos aqui hoje é porque necessariamente evoluímos.
 
Mas, será que estamos no caminho certo da evolução? Embora a maioria esmagadora das pessoas responda que sim; com a devida vênia, considero seriamente que não. E o melhor indicativo de que estou certo é a maior epidemia que acomete a humanidade na atualidade: o “mal do século”, ou a “crise do século XXI”.
 
Embora a maioria desconheça, estamos vivendo na atualidade a "crise do século XXI", ou "mal do século", que é a pandemia de doenças e transtornos mentais, cuja projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê se tornar até 2030 a patologia mais prevalente no planeta, à frente do câncer e algumas doenças infecciosas. Estresse, ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”, síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável coquetel de problemas psicológicos da vida moderna, que estão lotando os consultórios psicológicos e psiquiátricos, cada vez mais repletos de homens, mulheres e crianças, fragilizados e doentes da psique.  Em termos práticos, significa que, se ainda há quem não tenha sido acometido por pelo menos alguma dessas doenças, no futuro próximo certamente será.
 
Portanto, há que se perguntar: A realidade trágica da epidemia do “mal do século” demonstra a evolução da humanidade? É claro que não. Ao contrário, é a comprovação mais que escancarada que a humanidade está no caminho errado da evolução. E dois aspectos tornam tudo isso ainda mais desesperador: as pessoas ainda não se deram conta disso, e o prognóstico quanto à epidemia do “mal do século” é pessimista - porque só vai piorar.
 
Mas, onde está o erro no contexto da evolução da humanidade?
Resposta: No entendimento e aplicação equivocados sobre a teoria evolucionista de Charles Darwin, quanto ao que realmente significa evolução. Porque o entendimento equivocado consensual é o de que evolução significa mudança, no sentido de adaptação ao ambiente. Mas o entendimento correto é o de que evolução significa melhoria, nesse mister. Qual a diferença? A diferença é que todas as espécies, indistintamente, tanto as que sobreviveram como as que foram extintas, mudaram para se adaptar ao seu meio ambiente. Mas, somente as que sobreviveram evoluíram. Por que? Porque sua mudança representou melhoria; enquanto a mudança das que foram extintas não.
 
Portanto, para uma espécie de vida evoluir não basta mudar. É necessário também e principalmente melhorar, sempre. E a tragédia do mal do século é a comprovação cabal que a humanidade está mudando, mas para pior. Destarte, não se engane, estamos no caminho oposto ao da evolução e, consequentemente, caso não se reverta esse quadro, o holocausto da nossa espécie é o destino inevitável.
 
Nesse contexto, importa dizer que a humanidade somente não desaparecerá da face da terra porque desenvolveu suficientemente a tecnologia da medicina e da indústria farmacêutica de forma a manter-se artificialmente a vida humana; o que as demais espécies do planeta não possuem. De toda forma, o colapso e a crise social serão inevitáveis porquanto o custo generalizado de manter-se uma sociedade doente e improdutiva é impagável, principalmente em países corruptos e ineficientes como o Brasil.
 
A única solução viável, especialmente no caso da falida sociedade brasileira, é simples: “salve-se quem puder”. Ou seja, que cada pessoa salve-se a si própria. Como? Aplique corretamente a teoria evolucionista de Charles Darwin e melhore-se, a si próprio. Como? Pare de ser fraco e doente, e fique cada vez mais forte e saudável – o máximo possível. Ou, como bem disse Charles Darwin: “adapte-se ou morra”.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Teste de autoengano

Artigo de André Soares - 03/03/2018
 
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As ciências que estudam os fenômenos da “psiché”, como a psicologia e a psicanálise, tem denominações variadas, como “mecanismos de defesa do ego”, “mecanismos de culpas e desculpas”, e “racionalização”, dentre outros, para designar o tradicional comportamento humano de fuga da realidade, ignorando toda verdade desagradável e dolorosa, especialmente quando ela retrata os erros e defeitos do próprio indivíduo. Nesse contexto, quem melhor denominou este fenômeno foi o espetacular Eduardo Gianetti da Fonseca, em sua obra primorosa intitulada “Autoengano”, explicando com singular maestria a elevada capacidade do ser humano em enganar, não apenas as pessoas, mas também e principalmente de enganar-se a si próprio. E, embora seja inexorável e muitas vezes necessário, o autoengano por outro lado é também o principal aspecto psicossocial responsável pelo fracasso e insucesso na vida. Portanto, estamos falando da esmagadora maioria das pessoas desse mundo, cujo retumbante infortúnio existencial é devido exclusivamente a si mesmas.
 
O conhecido ditado “o pior cego é aquele que não quer ver” se aplica muito bem nesses casos. Porquanto significa a covardia em aceitar a verdade conhecida. Analisemos, por exemplo, duas das questões que mais afligem e geram sofrimento à humanidade: amor e felicidade. Onde está o autoengano nesses casos? Resposta: Em acreditar que se sabe o que eles de são de fato. Porque todas as pessoas acreditam que sabem o que ambos significam, mas na verdade absolutamente nada sabem sobre amor e felicidade. É isso mesmo! A humanidade simplesmente não sabe o que é amor e felicidade (dentre outras coisas).
 
E o que é mais dramático em tudo isso é que as pessoas, em toda a história da raça humana, consideram que sabem o que é vivenciar a plenitude do amor e da felicidade (dentre outras coisas),... e até morrem em nome do amor e da felicidade....quando, na verdade, nunca souberam o que verdadeiramente eles são e significam. Tudo isso é mais que estupidez coletiva. É o holocausto do desperdício suicida das vidas humanas.
 
Consequentemente, as pessoas se enraivecem e se tornam hostis contra quem afirma essa verdade inconveniente sobre elas mesmas. Principalmente porque comprovar a verdade que as pessoas não sabem o que é o amor e a felicidade (dentre outras coisas) é extremamente fácil. Quer ver?
 
Faço apenas uma ressalva: Como se trata de revelar um sensibilíssimo autoengano das pessoas para elas mesmas, a consequente e imediata reação emocional será a agressividade. Significa que fazer essa comprovação é realmente perigoso. Portanto, está feito o alerta.
 
Vamos, então, ao facílimo porém perigoso teste do autoengano.
Basta perguntar às pessoas o seguinte (dentre outras coisas):
  • O que é o amor?
  • O que é a felicidade?
Mas, com uma imposição: não é para as pessoas responderem suas respectivas opiniões, o que pensam, ou acham sobre o que supostamente imaginam o que venha a ser o amor e a felicidade (dentre outras coisas). É para que elas respondam qual é a verdade (verdadeira) sobre o objeto da pergunta.
 
Nesse momento, é importante não perder o controle da situação. Porque, evidentemente, as discussões serão intermináveis e infrutíferas. Afinal, a humanidade vem tentando descobrir o que é o amor e a felicidade (dentre outras coisas) desde que o mundo é mundo.
 
Consequentemente, as discussões cairão no baixo nível de sempre, afirmando-se que a verdade é relativa, que cada um tem a sua verdade, que a verdade é múltipla ... blá-blá-blá.... e até mesmo afirmando-se que a verdade não existe.
Toda essa pseudo argumentação, na verdade, nada mais é que autoengano para fugir da verdade.
 
Portanto, nesse momento, é importante fazer uma consideração lógica, porém muito perigosa (aliás, quando se trata de autoengano, tudo é perigoso): que a verdade verdadeira existe.
 
E para não se perder tempo com justificativas e abstrações inócuas, nada melhor que a verdade verdadeira para provar a verdade.
 
Pergunte, então, a quem se opuser:
Você existe?
 
A pessoa obrigatoriamente responderá que sim.
Todavia, apesar de improbabilíssimo, pode ser que a pessoa responda que não existe.
 
Tanto faz.
 
Aí, para que não paire qualquer dúvida, deve-se reiterar a pergunta, para que a confirmação da resposta seja cabal:
 
Você tem certeza que você existe (ou não existe)?
 
Se alguma pessoa não confirmar sua resposta anterior, faz-se então a conclusão inexorável:
Já que você não sabe se você existe (ou não existe), significa que isso é verdade.
E se é verdade que você desconhece a verdade sobre si mesmo, então também é verdade que você não sabe a verdade sobre o amor, a felicidade, ou qualquer outra coisa.
 
Contudo, a esmagadora maioria das pessoas confirmará sua resposta anterior, seja afirmando que existe, ou não existe.
Tanto faz.
 
Nesse momento, faz-se novamente a conclusão inexorável:
Já que você existe (ou não existe), significa que isso é verdade.
E se isso é verdade, então, a verdade existe.
E se a verdade existe, pare de enrolar e responda verdadeiramente (dentre outras coisas):
  • O que é o amor?
  • O que é a felicidade?
 
Estamos agora chegando ao momento mais explosivo do teste de autoengano. Porque, como eu disse, a esmagadora maioria da humanidade não conseguirá responder verdadeiramente o que é o amor e a felicidade (dentre outras coisas).
 
Então, a derradeira conclusão apoteótica, inexoravelmente insuportável é:
Como alguém que não sabe verdadeiramente o que é o amor, ou o que é a felicidade, ou o que é seja lá o que for, pode reconhecer, sentir, ou vivenciar, o que absolutamente desconhece?
 
Como eu disse, o resultado desse teste de autoengano será uma carnificina geral. Porque sempre que se força alguém a se deparar com a própria ignorância, a consequência inescapável é a violência.
 
O último e importante alerta é que, evidentemente, somente pouquíssimas pessoas tem competência para aplicar teste de autoengano. Afinal, quem se arriscar a aplicar um teste perigoso como esse, além de ser corajoso, tem obrigatoriamente que conhecer muitíssimo bem o gabarito, não é mesmo?
 
 
 
 

O projeto de poder dos militares


Artigo de André Soares - 01/03/2018

 

O atual colapso do estado brasileiro, mergulhado em grave crise político-econômica, corrupção institucional generalizada e degenerescência dos partidos políticos, é terreno fértil para imediatismos e adoção de paliativos, como são recorrentes em nossa história. Portanto, não é de surpreender o surgimento de retumbante e crescente mobilização social, conclamando a volta dos militares ao poder, como sendo a panaceia derradeira para a salvação nacional. Nesse contexto, a cúpula militar, contrariamente ao seu discurso oficial, está silentemente orquestrando esforços para retomar o protagonismo político no país.
 
Portanto, engana-se quem achar que o projeto de poder dos militares foi sepultado com o fim da ditadura militar em 1985, e que a nova geração de comandantes abdicou definitivamente a aspiração de reassumir o poder político no Brasil. E o quartel general que comanda veladamente essas ações está nas mãos dos militares de ultradireita da “comunidade de inteligência”, oriundos do extinto e famigerado SNI (Serviço Nacional de Informações), e que atualmente comandam a ABIN/SISBIN (Agência Brasileira de Inteligência/Sistema Brasileiro de Inteligência).
 
Essa cúpula militar vivencia na atual conjuntura um crescimento vertiginoso do seu poder político, graças a atuação decisiva do seu principal aliado: porque “nunca antes na história pós-ditadura militar desse país” os militares da “comunidade de inteligência” foram tão prestigiados por um presidente civil, como estão sendo pelo presidente Michel Temer.
 
Nesse sentido, lembremos que uma das primeiras decisões do presidente Temer ao assumir a presidência da república em 2016 foi a recriação do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que havia sido extinto meses antes pela presidente Dilma Rousseff, num dos últimos atos do seu governo. Esse ato presidencial representou a vitória política e estratégica mais importante do projeto de poder dos militares, por dois motivos: primeiro porque o GSI retomou a subordinação direta do seu principal braço operacional - a ABIN, órgão central do SISBIN e principal serviço secreto brasileiro, que estava vinculada à Secretaria de Governo da Presidência; e o segundo motivo é porque o exército retomou a hegemonia sobre a estrutura institucional do GSI na presidência da república, ressaltando-se que todos os ministros da história do GSI foram generais.
 
Todavia, faltava ainda aos militares retomar o comando efetivo da ABIN; depondo o Diretor-Geral todo-poderoso da agência, Wilson Roberto Trezza, que batia o incrível recorde de oito anos consecutivos na função, e que se opunha à subordinação da ABIN aos militares. Esse último óbice foi superado novamente por decisão do presidente Temer, que substituiu Trezza no comando da ABIN, eliminando assim as forças antagônicas aos interesses militares no âmbito da inteligência nacional.
 
A mais recente e ousada empreitada do projeto de poder dos militares contou mais uma vez com o protagonismo extraordinário do Presidente Temer: a histórica intervenção federal decretada por ele na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Pois, ao contrário do discurso governamental, trata-se na verdade de uma intervenção estritamente militar, a qual foi elaborada seguindo a mesma estratégia da recriação do GSI de tornar monopólio militar o seu comando institucional. Isso está inserido no decreto da intervenção federal, ao determinar tacitamente que “o cargo de Interventor é de natureza militar” (decreto Nº 9.288, de 16/02/2012, art 2º, parágrafo único). Portanto, está claro que a imposição legal de um general do exército da ativa como interventor no Rio de Janeiro foi uma decisão presidencial que não visou a atender apenas às demandas críticas de segurança pública do estado e as imperiosas atribuições governamentais.
 
Em seu “aproveitamento do êxito”, a cúpula militar vislumbra também a oportunidade de efetivar outra importante conquista, a qual é almejada de longa data: a chefia do ministério da defesa. Criado em 1999, o ministério da defesa passou a enquadrar as forças armadas (Marinha, Exército, Aeronáutica) que perderam o status ministerial e, consequentemente, poder político. Portanto, a vacância do cargo de ministro da defesa, com a nomeação do seu titular, Raul Julgmann, como ministro do recém criado ministério da segurança pública, está sendo ocupada interinamente por outro general do exército. Até quando? A depender dos militares – até sempre.
 
Concomitantemente, no cenário político partidário, o deputado federal e capitão do exército Jair Bolsonaro, ferrenho defensor dos governos militares e segundo colocado nas pesquisas eleitorais presidenciais deste ano, já declarou que, caso eleito, contará fortemente com a participação da cúpula militar em seu governo. 
 
Assim, do ostracismo político a que foram relegados ao fim da ditadura, os militares foram alçados na atualidade às luzes da aclamação da opinião pública e com crescente robustez política, por força da conjuntura nacional caótica, sob os auspícios generosos do governo Temer. Significa que o país está ante um futuro político incerto e arriscado, cujo infeliz prognóstico é a probabilidade da inepta sociedade brasileira incorrer nos mesmos erros do seu passado.