A propósito do artigo de André Soares intitulado "Os riscos do Treinamento Físico Militar", segue abaixo manifestação recebida por Inteligência Operacional sobre o assunto.
Saudações!
Prezado Tenente-Coronel André Soares,
Saudações!
Após ler sua matéria no Jornal do
Brasil (em 02/06) que fala sobre os perigos da atividade física militar e os
óbitos já registrados, tive a vontade de escrever-lhe porque este assunto, na
verdade, é a ponta de um "iceberg" que insistimos em ignorar. Embora,
eu não seja formado em medicina ou educação física, conheço muito bem a vida
militar e sei das suas nuances, principalmente, sobre o tópico "Preparação
Física". No seu artigo, citou exemplos trágicos ocorridos no Exército
Brasileiro, mas a FAB e a Marinha também possuem esses tristes números, na sua
maioria, envolvendo alunos da Escola Naval, Colégio Naval, EPCAR e AFA. Sabemos
que as três Forças não possuem um padrão único de atividades físicas para seus
militares, então, por que ocorrem essas semelhanças de óbitos durante
atividades físicas e treinamentos? Talvez, uma visão mais ampla precise ser
feita...
Sabemos que a atividade militar exige
(ou deveria exigir) um padrão psicológico, físico, médico e de conhecimentos
técnicos além do que pode ser encontrado na sociedade comum (por assim dizer).
Todavia, é patente que os processos seletivos impostos para o ingresso, assim
como, seus exames médicos obrigatórios estão, na minha óptica,
muito aquém do que deveria ser cobrado. Nas três Forças Armadas, sem exceção,
os exames médicos de ingresso e a anamnese são feitos de forma rudimentar.
Muitos males, tais como: pressão alta, arritmia cardíaca, hérnias etc. só são
descobertos por militares quando a situação se torna bem mais crítica, ao invés
de serem detectados ainda no processo de seleção. Exames mais rigorosos
mostrariam o que deveria ser feito para combater o mal e não apenas usar
artifícios paliativos. O engraçado é que, em se tratando de exames para piloto
de avião/helicóptero, forças especiais, mergulhadores, paraquedistas e
escafandristas o nível de exigência e tipos dos exames médicos são
completamente diferentes. O senhor bem disse em seu texto que a obesidade
mundial representa um dos vilões desta história toda, entretanto, s.m.j., é
muito difícil encontrarmos um militar, que se inclui neste grupo menor de
atividades especiais militares, obeso ou com falta de preparo físico, pelo
contrário, conheço alguns oficiais generais que exibem disposição e
condicionamento por vezes superiores aos mais jovens. Não acredito que estes
militares possuam algum dom mágico ou predestinação para desempenharem
atividades especiais, mas sim, que o processo seletivo e os exames
complementares exigidos são bem mais rigorosos.
O Brasil é um país de contrastes e a
saúde, educação e alimentação sadia nunca foram assuntos muito privilegiados
por nossos governantes. Como podemos exigir de nossos militares um desempenho
físico, intelectual e médico de altos níveis quando nossa base de alimentação é
completamente fora dos padrões necessários? Nos quarteis, embora haja
sempre vozes que alegam que os cardápios passam pelas mãos de nutricionistas, a
alimentação oferecida está sempre ligada ao binômio "MAIS BARATO X MAIS
SOBRA LÍCITA". Excesso de gordura, fritura, sucos industrializados,
carência de diversidade de frutas etc. Logicamente que o resto do Brasil, como
um todo, possa se alimentar do mesmo jeito, porém, na sua grande maioria, não
são exigidos em suas plenitudes como os militares os são. Esse é o ponto.
Em geral, durante um dia de expediente normal, nossos militares gastam apenas
cerca de uma hora em prol de atividades físicas e o restante do tempo
enfurnados em salas fechadas gerenciando o setor administrativo. Penso que isso
deveria ser o contrário. Artes marciais, treinamento físico de qualidade,
cursos específicos, acompanhamento médico-psicológico, dentre outros, deveriam
ser prioridade durante o período de expediente normal, mas não são. Assim,
quando "alguém se lembra" que é preciso formar novas turmas ou fazer
testes anuais, começa a correria e os militares, em grande parte debilitados de
alguma forma, são exigidos ao máximo por pessoas que, nem sempre, detém o preparo
adequado para tais funções. O resultado é esse que o senhor apresentou: mortes
durante treinamentos em tempos de paz. O senhor também percebeu que tais
óbitos ocorrem, na maioria, com aspirantes, cadetes ou alunos sendo preparados
para serem oficiais, assim como, forças especiais? Intrigante, não acha?
Certa vez, li uma reportagem que falava
sobre as mulheres que servem ao Exército de Israel. Mostrou-se o tipo de
treinamento delas, que era o mesmo aplicado aos homens. Arrisco a dizer que boa
parte dos militares brasileiros não consegue ter o desempenho militar que as
mulheres israelenses apresentam. Sabendo-se que Israel é um país que merece o
respeito do mundo no que diz respeito às artes bélicas, podemos afirmar que as
mulheres de lá são super-humanos? Óbvio que não. Talvez a diferença esteja
justamente no modo de preparação e escolha de prioridades para o treinamento de
seus militares.
Andando pelos vários quartéis
brasileiros, é fácil observar que uma grande maioria não tem a higidez física e
preparo psicológico para enfrentar um combate "amanhã". Até porque,
conhecendo o histórico do Brasil no cenário mundial, não sofremos ameaças
bélicas de outros países, como é o caso de Israel, EUA, Inglaterra etc. Os
militares brasileiros vivem na latência de serem chamados para ocupar um morro
ou fazer segurança de atividades políticas ou ajudar na segurança do carnaval
de Salvador. Enquanto isso, o nosso preparo está cada vez pior e, infelizmente,
continuaremos a ver que esses óbitos em tempos de paz, para muitos, tratam-se
apenas de mais um número a ser substituído numa lista de computador. Tenho a
convicção de que, em caso de uma possível guerra, estas ocorrências seriam
muito maiores e os óbitos por falta de preparo adequado atingiriam valores
alarmantes. Por isso, peço sempre a Deus: " Livrai-nos
da Guerra".
Parabéns por sua iniciativa em expor
para a sociedade este quadro negro de nossas FFAA.
Cordialmente,
JPTR
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