Artigo de André Soares - 06/09/2012
As pessoas com idade avançada são impropriamente denominadas de velhas. Porque como é notório que há pessoas que são velhas por toda a vida significa que o envelhecimento não é apenas uma conseqüência exclusiva do inexorável transcurso do tempo.
Todavia, o aterrorizante medo da morte tem recrudescido a exacerbação
do autoengano nos dias atuais. Destarte, verifica-se o emprego da
manipulação logomáquica, visando ao mascaramento da inevitável fase
terminal da vida, pela adoção de expressões eufemísticas como “idade da
razão”, “idade da sabedoria” e “melhor idade”, dentre outras. Contudo e
contrariamente ao senso comum, a verdade sobre o envelhecimento é
trágica, o qual não é nem mesmo o apogeu das virtudes e sabedoria
humanas. Essa dura realidade da vida foi brilhantemente retratada nas
sábias e sinceras palavras de Rita Lee, a talentosa e irreverente rainha
do rock brasileiro que, alcançando a “terceira idade”, declarou
corajosamente: “...Envelhecer é uma merda!”
Não
há nada de bom em envelhecer. Absolutamente, nada. Aceitar essa verdade
inconteste é dolorosamente insuportável para a esmagadora maioria das
pessoas. E a tragédia do fim da vida é ainda pior porque é pura mentira
acreditar que o envelhecimento proporciona virtuosidades e sabedoria.
Ledo engano. Porque envelhecer, além de ser o pior momento da vida em
todos os sentidos, é a fase em que a maioria das pessoas fica ainda pior
do que sempre foi. Todavia, a boa notícia é que a "melhor idade" existe
e pode durar por toda a vida. Mas, para isso, é necessário compreender
que o ser humano possui inúmeras idades, sendo quatro as mais
importantes.
A
primeira e menos importante delas é a “idade cronológica” que, sendo
meramente quantitativa, é matematicamente referenciada em relação à data
de nascimento. A despeito de ser motivo de preocupação e omissão
especialmente pelas mulheres a partir da fase adulta, sua principal
utilidade é referenciar o tempo de vida transcorrido. Nada mais.
Todavia, alcançar o seu maior valor possível é a obstinação que a
humanidade mais se preocupa, muitas vezes se esquecendo de que viver em
quantidade só é satisfatório se houver qualidade de vida. Caso
contrário, a existência humana se transforma em mero suplício.
A
segunda idade em importância é a "idade aparente", que é a idade
cronológica que as pessoas imaginam a respeito de outrem. Ela tem
crescente importância social, notadamente a partir da maturidade, no
sentido de se aparentar máxima beleza e jovialidade, próprias de "idade
cronológica" inferior a que realmente se tem. A despeito de sua menor
expressão no ranking das idades humanas, a "idade aparente" é
considerada unanimemente como a mais importante de todas, em razão das
inúmeras oportunidades auspiciosas que ela proporciona no mundo atual,
dominado pela ditadura da “lei do mais belo(a)”.
Contudo,
a terceira idade é muito mais importante que as anteriores. Trata-se da
"idade física", que espelha a saúde, higidez e vitalidade do organismo.
Investir numa excelente "idade física" é crucial para se viver
bastante, mas principalmente por viabilizar máxima qualidade de vida.
Infelizmente, a realidade da atual conjuntura é que as sociedades estão
contaminadas por crescentes epidemias de natureza comportamental,
devidamente alardeadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
principalmente a de transtornos mentais e de obesidade, revelando que as
pessoas estão adoecendo, descuidadas de suas "idades físicas", tão
essencial à saúde e à própria vida.
Por
fim, a "idade psíquica" é a mais importante das idades humanas. Ela é a
principal determinante da vida, pois é a idade do espírito e da alma de
quem vive. Assim, a "melhor idade" é a "idade psíquica” dos jovens,
cuja juventude não é proveniente apenas do corpo, mas principalmente da
mente humana. Mas, o que é ser jovem? Ser jovem é
possuir a virtude da rebeldia que, ao contrário do que se imagina, não é
aspecto depreciativo da personalidade. Porque rebeldia é o atributo de
caráter próprio de quem não se permite dominar, não é subserviente, não
se subverte, não se vende, não se corrompe, não se escraviza, e luta
apaixonadamente por suas ideias. Isso é ser jovem.
Portanto,
enquanto o ser humano tiver o espírito da "idade psíquica" da rebeldia
ele será eternamente jovem, a sua vida terá propósito e será vivida com
tesão, terá graça, beleza, saúde, vigor, alegria e felicidade. Essa é a
"melhor idade". E que seja eterna enquanto dure!
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