Artigo de André Soares - 15/08/2012
Sobre a real gravidade dos crimes da ABIN na “Satiagraha”,
é de todo pertinente se indagar por que o então presidente Lula não
hesitou em exonerar imediatamente o Diretor-Geral e toda a cúpula da
agência, tão logo tomou conhecimento dos fatos; quando no caso do
“mensalão” e em todas as graves crises dos seus dois mandatos, o
presidente Lula sequer afastou qualquer de seus principais assessores. O
real motivo dessa atitude inédita de Lula está no fato de que se há
controvérsia sobre a sua eventual omissão a respeito do “mensalão”;
quanto aos crimes praticados pela ABIN na “Satiagraha”, é indubitável
que o presidente da república foi completamente traído por sua principal
agência de inteligência. Assim, como Lula conhece sobejamente a
história política nacional, ele sabe que presidentes podem sobreviver a
“mensalões”; mas não à “monstruosidade” de seus próprios serviços
secretos.
Não
por acaso, o General Golbery do Couto e Silva, um dos principais
idealizadores do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), criado
em 1964, eternizou suas célebres palavras de arrependimento ao declarar
posteriormente a respeito daquele serviço de informações: “Não imaginei
que havia criado um monstro”. Todavia, como o presidente Fernando
Henrique Cardoso (FHC) não se afastou dos erros passados reencarnou no
Brasil o fantasma do antigo SNI, instituindo no país a ABIN, pela Lei
9883, de 07 de dezembro de 1999, como órgão central do Sistema
Brasileiro de Inteligência (SISBIN).
Destarte, com pouco mais de uma década de existência, a história da
ABIN se caracteriza por sua escandalosa ineficiência e por uma sucessão
de escândalos e obscuras crises institucionais que conduziram a
degenerescente inteligência nacional à UTI, em estado gravíssimo, devido
ao desvirtuamento criminoso dos seus serviços secretos. No epicentro
desse estado de caos está a ABIN que, possuidora de amplos poderes, permanece
uma “caixa preta” inexpugnável, completamente fora de controle, cujos
crimes contra o estado vão muito além das suas ilicitudes cometidas na
Operação “Satiagraha”.
Portanto,
o “mensalão” e a “Satiagraha” possuem semelhanças congêneres. Nesse
sentido, ambos não foram desvelados pela eficiência institucional do
estado brasileiro, mas sim por mero acaso do destino; e seus crimes
foram perpetrados por poderosas organizações criminosas nacionais,
infiltradas visceralmente nos mais elevados e sensíveis escalões
governamentais, contra o próprio estado constitucional. Mas, há uma
diferença fundamental entre eles. Porque se no “mensalão” nossos
governantes tiveram coragem e força para vencerem os inimigos do estado
brasileiro, na “Satiagraha” continuam reféns da “monstruosidade” dos
serviços secretos nacionais.
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