Artigo de André Soares – 02/09/2012
“A
tropa é o espelho do chefe” é uma inexorável e universal máxima sobre a
carreira das armas. Quem souber empregá-la conseguirá avaliar com
precisão e rapidamente o poder militar de qualquer tropa, organização
militar, ou forças armadas, sem necessitar de uma investigação
aprofundada. Porque todos os militares subordinados, sem exceção, ficam
inescapavelmente aprisionados sob a influência da pessoa e valor dos
seus comandantes, em tudo. Nos atos de heroísmo e bravura, mas também na
incompetência e na corrupção. Isso decorre da vida profissional
totalizante a que os militares estão submetidos, sob os rigores
absolutos da hierarquia e disciplina militares. É exatamente por isso
que outra máxima militar nos ensina que “as palavras convencem, mas o
exemplo arrasta”, inclusive o mau exemplo. Portanto, em qualquer
circunstância, seja qual for o efetivo, valor, ou situação de emprego
das forças militares de qualquer natureza, estar-se-á sempre diante do
retrato mais fiel da pessoa do seu comandante.
Nesse
mister, “A psicologia da incompetência dos militares’’ é uma obra rara,
densa e primorosa, de natureza científico-acadêmica, de autoria de
Norman F. Dixon, que desvela com especial maestria o perfil psicológico
dos comandantes incompetentes, os quais arrastam inescapavelmente as
instituições militares sob seu comando para a ineficiência. Constitui
assim diagnóstico minucioso notadamente sobre o perfil dos comandantes
das forças armadas brasileiras e sua cúpula, que são os principais
responsáveis pelo
quadro de falência que afeta as forças armadas brasileiras; e não os
governantes do país, que são injustamente condenados por eles,
veladamente junto ao seu público-interno.
A realidade é que as forças armadas brasileiras são ineficientes no cumprimento de sua missão constitucional de defesa nacional porque são não operacionais, a exemplo de seus comandantes. Essa
grave deficiência do poder militar do país também inviabiliza a sua
pretensão de conquistar assento no Conselho de Segurança da ONU, como
membro permanente. Pois, é pura ingenuidade imaginar que o seleto grupo
das maiores potências bélicas do mundo (China, França, Rússia, Reino
Unido e EUA), aceitará o ingresso de um país com poder militar não
operacional, como o Brasil.
Essas são verdades proibidas e dissimuladas da sociedade porque revelam que nossas forças armadas são incapazes de vencer guerras. Isso porque
as estruturas militares se tornam ineficientes quando se desvirtuam de
sua atividade-fim que é o emprego em combate. Destarte, prova
cabal de autoria e materialidade desse flagrante delito cometido contra
a defesa nacional está paradoxalmente nos extensos currículos dos
comandantes e a cúpula das forças armadas. Pois, atestam que eles, em
suas longas carreiras militares, nunca combateram ou vivenciaram o “bom
combate”; diferentemente dos nossos corajosos e esquecidos “pracinhas”
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutaram e morreram
defendendo o Brasil na II guerra mundial. Portanto, a verdade sobre o
profissionalismo militar dos comandantes das forças armadas brasileiras é
de incompetência, congênere à do engenheiro que nunca construiu, ou à
do cirurgião que nunca operou.
Nessa
conjuntura atual, a carreira das forças armadas tornou-se profissão
desprestigiada no país, porém muito disputada por ter se transformado
num excelente emprego, sendo dominada pelos carreiristas de gabinete,
preterindo os verdadeiramente vocacionados para a vida castrense. Isso é
o que vem ocorrendo há décadas, cuja crescente e grave evasão de jovens
promissores de suas fileiras é hemorragia que os atuais comandantes
militares conseguem esconder, mas não estancar. Portanto, confirmando a
máxima inexorável, as forças armadas brasileiras são exatamente o
retrato mais fiel da personalidade de seus respectivos comandantes.
Se
qualquer pessoa em sã consciência e voluntariamente não habitaria com
sua família uma residência construída por um engenheiro que nunca
construiu, e não submeteria qualquer de seus familiares a uma cirurgia
realizada por um cirurgião que nunca operou, a triste verdade é que a
defesa nacional está entregue a comandantes militares que nunca
combateram. Quando a nação brasileira conclamar nossas forças armadas ao
derradeiro combate em defesa do país, estaremos confiando a eles o
destino do Brasil e a vida de nossos filhos. Todavia, nossos comandantes das forças armadas ostentam medalhas, muitas medalhas.
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