terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Diretor-Presidente de Inteligência Operacional denunciou aos governantes do país "Clandestinidades da ABIN"





Belo Horizonte, 03 de dezembro de 2012
De: André Costa Soares - Tenente Coronel R1 Exército Brasileiro - Diretor-presidente de Inteligência Operacional

Ao: 

  • Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff, Presidenta do Brasil.
  • Excelentíssimo Senhor Ministro Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal
  • Excelentíssimo Senhor Senador José Sarney, Presidente do Congresso Nacional.
  • Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos.


Assuntos:
1)      Violação do preceito constitucional da publicidade (Art 37º - Constituição da República Federativa do Brasil e Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 - “Lei de Acesso à Informação”)
2)      Clandestinidades patrocinadas pela Direção-Geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) 

  1. Cumprimentando a Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff, Presidenta do Brasil; o Excelentíssimo Senhor Ministro Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal; o Excelentíssimo Senhor Senador José Sarney, Presidente do Congresso Nacional; e o Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos; e agradedecendo a deferência de vossa atenção, encaminho-vos o presente expediente, sobre os “Assuntos”, em epígrafe.
  2. Informo-vos que sou André Costa Soares - Tenente Coronel R1 Exército Brasileiro - Diretor-presidente de Inteligência Operacional www.inteligenciaoperacional.com  , autor de obras inéditas no Brasil sobre Inteligência de Estado e Inteligência Operacional, tendo integrado os principais serviços de inteligência do país.
  3. Informo à Vossa Excelência que estou sendo vítima de inaceitável violação dos meus direitos constitucionais, especialmente quanto ao princípio da publicidade, em flagrante desrespeito ao ordenamento jurídico vigente, notadamente da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (“Lei de Acesso à Informação”), primorosamente promulgada pelo nobre empenho da Excelentíssima Senhora Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, representando significativo avanço para o estado democrático de direito do país.
  4. Nesse contexto, informo à Vossa Excelência que protocolizei expediente de 14 de junho de 2012 (com treze páginas), no Comando da 4ª Região Militar (4ª RM) do Exército Brasileiro, requerendo por escrito acesso à informação daquele órgão público, rigorosamente conforme preconiza a “Lei de Acesso à Informação”, o qual foi reiterado várias vezes, e até a presente data não me foi prestada a referida informação pública.
  5. Ressalta-se, como agravante, que nesse caso em testilha ainda causa espécie e perplexidade que esteja sendo negado acesso a uma informação pública de natureza ostensiva e por demais elementar porquanto a informação pública por mim requerida e que me está sendo negada até a presente data refere-se simplesmente ao funcionamento do horário de expediente institucional daquele Grande Comando.
  6. Nesse mesmo contexto, informo à Vossa Excelência que, em conseqüência, também fui indiciado em Inquérito Policial Militar (IPM - EB: 64316.015033/2012-25), instaurado pelo Comandante da 4ª Região Militar (4ª RM), General de Divisão Ilídio Gaspar Filho, acusando-me do cometimento de diversos crimes e transgressões disciplinares, absolutamente inexistentes.
  7. Por importante, informo à Vossa Excelência que tais fatos não estão ocorrendo contra a minha pessoa por mero acaso ou coincidência, pois os mesmos decorrem não apenas da minha inarredável luta pelo respeito aos meus direitos constitucionais, mas principalmente por eu ser Diretor-presidente de Inteligência Operacional, combatendo implacavelmente a criminalidade organizada que governa os serviços secretos no Brasil, razão pela qual estou ameaçado de morte  há vários anos.
  8. Nesse mister, informo à Vossa Excelência que no pleno gozo e exercício do meu legítimo direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, impetrei nos autos do IPM no qual sou indiciado, em 07 de novembro de 2012, expediente detalhado, com 327 (trezentos de vinte e sete) páginas, comprovando cabalmente minha total inocência e os ilícitos que denunciei, bem como apresentando ingentes clandestinidades perpetradas pela Direção-Geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) contra a minha pessoa e contra o estado brasileiro, com provas documentais e institucionais irrefutáveis, que constituem a genealogia das ameaças e retaliações que venho sofrendo e que também estão diretamente relacionadas aos envolvidos e às clandestinidades protagonizados pela ABIN  na “Operação Satiagraha”, a serem julgadas pelo eminente Supremo Tribunal Federal (STF).
  9. Pelo exposto, por se tratar de escabrosa violação dos ditames constitucionais e sobre questões de relevância nacional de ingente gravidade da atual conjuntura, relativas ao desvirtuamento da atuação da ABIN, que são completamente desconhecidas pelos governantes e a sociedade brasileira, informo-vos que em obediência ao meu absoluto compromisso com a legalidade e a ética encaminhei também e tempestivamente o meu referido expediente à Vossa Excelência e às autoridades federais abaixo discriminadas, para o devido conhecimento, o que fiz oficialmente, em 07 de novembro de 2012,  por intermédio do Comandante da 4ª Região Militar (4ª RM), General de Divisão Ilídio Gaspar Filho:

    1.      Presidente(a) da República
    2.      Presidente do Congresso Nacional
    3.      Presidente do Supremo Tribunal Federal
    4.      Procurador-Geral da República do Ministério Público Federal
  10. Renovando meus cumprimentos à Vossa Excelência, permaneço à vossa disposição na defesa dos princípios constitucionais e do estado democrático de direito vigente no país, como também para a rigorosa apuração dos fatos apresentados, em nome da verdade e da justiça.
Atenciosamente.

André Costa Soares.
Tenente Coronel R1 Exército Brasileiro
Diretor-presidente de Inteligência Operacional

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Para que serve a ABIN?

Artigo de André Soares - 26/06/2013

Servidores da Agência Brasileira de Inteligência afirmam que há uma tentativa de militarização da atividade (Ed Alves/CB/D.A Press - 20/9/12)




“Para que serve a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)?” é uma das perguntas mais recorrentes dos governantes do país, formulada sistematicamente desde a sua criação em 1999, pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e atualmente pela presidenta Dilma Rousseff, em razão de sua escabrosa ineficiência. Porque é sobejamente notório que a ABIN é incompetente no cumprimento de sua missão institucional de antecipar oportunamente aos nossos governantes as graves ameaças que vitimam o estado brasileiro.
Contudo, assim como “o pior não tem limite”, a incompetência da ABIN também não tem. Porque a ineficiência do principal serviço secreto do país chegou ao cúmulo de não conseguir prever e antecipar tempestivamente à presidência da república a onda de manifestações populares que eclodiram recentemente em todo o Brasil e que, a despeito da sua legitimidade, vem sendo infiltrada por diversos grupos criminosos, realizando graves contingências à segurança pública.
Parece inacreditável, mas a ABIN, como órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), mesmo com todo o seu orçamento e aparato nacional de inteligência à sua disposição, bem como com sua legião de arapongas espalhados por todo o país, empregando as técnicas operacionais mais sigilosas dos serviços secretos, não antecipou oportunamente à presidenta Dilma Rousseff sobre a recente onda de manifestações populares, que vem reunindo centenas de milhares de pessoas, as quais não foram planejadas em sigilo, mas sim espontaneamente e ostensivamente em todos os meios de comunicação, especialmente nas principais redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp.
Ou seja, a ABIN não antecipou o escandalosamente óbvio, que o Brasil e toda a sociedade sabiam. Aliás, para saber sobre a eclosão dessa importante realidade nacional, bastava aos dirigentes da ABIN conversarem com seus próprios filhos que, assim como milhares de jovens brasileiros, certamente sabiam como participaram desses eventos.
Contudo, a principal pergunta que mais incomoda os governantes do país não é “Para que serve a ABIN?”, mas “O que fazer com a ABIN?”.
 
 
“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
(Coronel Walther Nicolai - 1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck)

domingo, 9 de junho de 2013

General da ditadura tem filho na Abin

 
 


Fonte: EM.COM.BR
Publicação: 09/06/2013 07:00 Atualização: 09/06/2013 07:39

João Valadares


 
 
Brasília – O atual diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham, com acesso direto, pela natureza do cargo que ocupa, a informações que ainda não vieram à tona sobre desaparecidos políticos da ditadura, é filho do general da reserva José Antônio Nogueira Belham. O militar era o chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro na época em que o ex-deputado federal Rubens Paiva foi assassinado, em 1971, após ser preso e levado para o departamento. Ao saber da informação por meio da reportagem, o filho de Rubens Paiva, o escritor Marcelo Rubens Paiva, afirmou que a relação de parentesco entre o número 2 da Abin e o general da reserva causa estranheza e extremo desconforto para a família. "O governo brasileiro precisa saber o que quer de verdade", disse.

O temor de Marcelo Rubens Paiva é de que, pela função de destaque que Ronaldo Martins Belham ocupa na Abin, ocorra algum tipo de filtragem institucional ou até obstaculação de informações essenciais que podem ajudar a desvendar a verdade histórica em relação à morte do pai. O corpo nunca apareceu. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) já publicou documento em que atesta que o general Belham recebeu, quando chefiava o DOI-Codi do Rio de Janeiro, dois cadernos de anotações que pertenciam a Rubens Paiva. O nome de Belham aparece escrito de caneta na folha amarelada como o responsável por receber o material. O subcomandante era o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. O documento que desmontou a versão do Exército foi encontrado, no fim do ano passado, pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul na casa do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas, já falecido.

A CNV tenta localizar o general da reserva Belham para que ele possa ser ouvido e explicar as circunstâncias da madrugada de 20 de janeiro de 1971. "Imagine um dos filhos do Joseph Goebbels (ministro da propaganda de Adolf Hitler) com a chave de todos os arquivos de Nuremberg nas mãos. Sei que o general Belham ficou com os cadernos de anotações do meu pai. Há documentos que comprovam isso. Precisa ser investigado. Causa-me desconforto e estranheza saber que ele (Ronaldo) é filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como, numa posição de destaque da Abin, ele vai facilitar a revelação de informações secretas que comprometam o pai?", questiona Marcelo Rubens Paiva.

Muitos dos quadros da Agência Brasileira de Inteligência, criada em 1999, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, são militares remanescentes do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). Ronaldo Martins Belham ingressou no SNI na década de 1980, antes da criação da Abin e do primeiro concurso do órgão, em 1999. Ronaldo Belham chegou ao posto de número 2 da agência em setembro de 2009, durante o governo Lula. Antes, era chefe da Divisão de Pessoal da Abin. Ele chegou a ser cogitado para comandar a agência pela proximidade que o pai tinha com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional na época, Jorge Félix.

ACERVO DE MAIS DE 1 MILHÃO DE PÁGINAS
A Abin guardava, apenas em relação ao período compreendido entre 1964 e 1990, mais de 132 metros lineares de documentos sobre a ditadura, que englobam mais de 1 milhão de páginas. Ainda existem mais 220 mil unidades de microfichas encaminhadas pela Abin para digitalização no Rio de Janeiro. Todos os documentos foram encaminhados ao Arquivo Nacional, em Brasília.

"O sadismo reinava no DOI-Codi do Rio de Janeiro. Lá, tinha uma famosa geladeira e até uma cobra. Era um horror. Como o filho dele (general Belham) está na ponta da Abin? E não estou falando apenas como o filho de Rubens Paiva. Estou falando como um cidadão brasileiro. Não queremos revanchismo, mas é preciso que as pessoas venham a público. São crimes contra a humanidade que foram praticados", ressalta Marcelo Rubens Paiva.

A reportagem tentou entrar em contato com o general da reserva Belham, mas não conseguiu. Uma mulher, que não se identificou, atendeu o telefone celular e informou que o militar aposentado estaria viajando. Uma ex-cunhada, que mora no Rio de Janeiro, atestou que José Antonio Nogueira Belham está vivo, com 79 anos, e mora num apartamento em Brasília. Ela disse não ter mais contato com ele. A reportagem também tentou, em várias ocasiões, ouvir Ronaldo Martins Belham por meio da assessoria de imprensa da Abin, mas não foi possível. Ele foi informado do conteúdo da reportagem.

Até novembro de 2010, o militar ocupava o cargo de vice-presidente da Fundação Habitacional do Exército, responsável pelo controle da Associação de Poupança e Empréstimo, a Poupex. Ele foi exonerado pelo comandante do Exército, general Enzo Peri, por supostamente ter destratado viúvas de oficiais mortos no terremoto no Haiti, no início de 2010.

O ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, que integra a Comissão Nacional da Verdade e acompanha de perto o caso Rubens Paiva, informou, por meio da assessoria de imprensa, que não falaria sobre o fato de o filho do general Belham ser o diretor-adjunto da Abin. Ele alegou que vários documentos ainda estão sendo investigados.

Na época em que a Polícia Civil gaúcha localizou papéis inéditos na casa de Molina, Fonteles afirmou categoricamente à imprensa que Rubens Paiva foi morto no DOI-Codi do Rio de Janeiro. “A prova documental é muito forte. Ela vem do próprio sistema ditatorial militar com a tarja de secreto. Para mim, está esclarecido. Só falta pontuar quem foi que matou. Quem matou, você não tenha a menor dúvida, foi o Estado ditatorial militar. Agora, alguém deu um tiro, alguém deu socos. Só falta saber o nome”, disse, no início do ano. (Colaborou Adriana Bernardes)   


Presidente da Comissão da Verdade quer demissão da Abin de filho de general



 
Wadih Damous defendeu neste domingo (9/6) a demissão do diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham por suas ligações familiares com o general da reserva José Antonio Nogueira Belham

 
Publicação: 09/06/2013 11:45 Atualização: 09/06/2013 12:41
 
 
O presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous defendeu neste domingo (9/6) a demissão do diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham por suas ligações familiares com o general da reserva José Antonio Nogueira Belham. O seu pai foi chefe do DOI-CODI do Rio de Janeiro na época em que ex-deputado-federal Rubens Paiva foi assassinado, em 1971, após ser preso e levado para o departamento.
Segundo Damous, a nomeação de Ronaldo Belham para cargo de diretoria da Abin é, no mínimo, inconveniente. "Ainda que ele nada tenha a ver com os episódios, hoje sob investigação, de torturas e desaparecimentos ocorridos à época da ditadura, a sua suspeição é evidente pelas funções que exerce atualmente". O filho do ex-chefe do DOI-CODI, detém o poder de filtrar e impedir que informações que receba daquele período venham a público, tendo em vista que o seu pai, sem sombra de dúvidas, está envolvido naqueles episódios.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) já publicou documento em que atesta que o general Belham recebeu, quando chefiava o DOI-CODI do Rio de Janeiro, dois cadernos de anotações que pertenciam a Rubens Paiva. O nome de Belham aparece escrito de caneta na folha amarelada como o responsável por receber o material. O subcomandante era o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. O documento que desmontou a versão do Exército foi encontrado, no fim do ano passado, pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul na casa do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas, já falecido. A CNV tenta localizar o general da reserva Belham para que ele possa ser ouvido e explicar as circunstâncias da madrugada de 20 de janeiro de 1971.
 
 

Família teme obstáculos na apuração sobre morte do ex-deputado Rubens Paiva


 Fonte: Jornal Correio Braziliense
Publicação: 09/06/2013 07:56 Atualização: 09/06/2013 07:54

 
O atual diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham, com acesso direto, pela natureza do cargo que ocupa, a informações que ainda não vieram à tona sobre desaparecidos políticos da ditadura, é filho do general da reserva José Antônio Nogueira Belham. O militar era o chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro na época em que ex-deputado-federal Rubens Paiva foi assassinado, em 1971, após ser preso e levado para o departamento. Ao saber da informação por meio do Correio, o filho de Rubens Paiva, o escritor Marcelo Rubens Paiva, afirmou que a relação de parentesco entre o número 2 da Abin e o general da reserva causa estranheza e extremo desconforto para a família. “O governo brasileiro precisa saber o que quer de verdade”, disse.

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O temor de Marcelo Rubens Paiva é de que, pela função de destaque que Ronaldo Martins Belham ocupa na Abin, ocorra algum tipo de filtragem institucional ou até obstaculação de informações essenciais que podem ajudar a desvendar a verdade histórica em relação à morte do pai. O corpo nunca apareceu. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) já publicou documento em que atesta que o general Belham recebeu, quando chefiava o Doi-Codi do Rio de Janeiro, dois cadernos de anotações que pertenciam a Rubens Paiva. O nome de Belham aparece escrito de caneta na folha amarelada como o responsável por receber o material. O subcomandante era o major Francisco Demiurgo Santos Cardoso. O documento que desmontou a versão do Exército foi encontrado, no fim do ano passado, pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul na casa do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas, já falecido.

A CNV tenta localizar o general da reserva Belham para que ele possa ser ouvido e explicar as circunstâncias da madrugada de 20 de janeiro de 1971. “Imagine um dos filhos do Joseph Goebbels (ministro da propaganda de Adolf Hitler) com a chave de todos os arquivos de Nuremberg nas mãos. Sei que o general Belham ficou com os cadernos de anotações do meu pai. Há documentos que comprovam isso. Precisa ser investigado. Causa-me desconforto e estranheza saber que ele (Ronaldo) é filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como, numa posição de destaque da Abin, ele vai facilitar a revelação de informações secretas que comprometam o pai?”, questiona Marcelo Rubens Paiva.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Estelionatário que atuava na ABIN foi condenado


Acesse no site Inteligência Operacional os documentos:

  1. Sentença condenatória da Justiça Federal do Pará
  2. MEMORANDO Nr 029/8600/ABIN/GSI/PR, Belém do Pará, de 28/02/2002, à Diretora-Geral da ABIN, MARISA ALMEIDA DEL'ISOLA E DINIZ
  3. MEMORANDO Nr 0032/8600/APA/ABIN, Belém do Pará, de 01/03/2002, ao Diretor de Segurança Orgânica DEPC/ABIN, JOSÉ DAVID DE OLIVEIRA
  4. MEMORANDO Nr 001/8630/SEGOR/APA, Belém do Pará, de 22/02/2002, ao Chefe da APA/ABIN, ARLINDO COLOMBELLI 
(Cadastre-se na "Área Restrita",  faça o download em "DOWNLOADS GRATUITOS" e acesse o menu "ABIN")


Após decorridos 11 anos, o estelionatário que atuava na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) foi condenado à pena de 2 (dois) anos de reclusão pela Justiça Federal do Pará, conforme Sentença acima, de 28 de maio de 2013. 
No referido esquema criminoso, certidões de tempo de serviço eram vendidas dentro das instalações da ABIN, em Belém/PA (Rua Gaspar Viana, 485, 13º andar), por valores entre R$ 150,00 e R$ 300,00.
O início das denúncias, as quais não foram apuradas pela ABIN até a presente data, foi em fevereiro de 2002, conforme os documentos da ABIN acima referenciados.

Os dirigentes da ABIN responsáveis responderão judicialmente em ações judiciais específicas na Justiça Federal, em Brasília/DF.

O aprofundamento das investigações também apurará denúncias de que parte dos valores arrecadados era supostamente utilizada em operações clandestinas patrocinadas contra pessoas que detém informações sobre vítimas da guerrilha do Araguaia, ocorrida na década de 1970. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Carta à Inteligência Operacional

A propósito do artigo de André Soares intitulado "Os riscos do Treinamento Físico Militar", segue abaixo manifestação recebida por Inteligência Operacional sobre o assunto.

 
Prezado Tenente-Coronel André Soares,

Saudações!

Após ler sua matéria no Jornal do Brasil (em 02/06) que fala sobre os perigos da atividade física militar e os óbitos já registrados, tive a vontade de escrever-lhe porque este assunto, na verdade, é a ponta de um "iceberg" que insistimos em ignorar. Embora, eu não seja formado em medicina ou educação física, conheço muito bem a vida militar e sei das suas nuances, principalmente, sobre o tópico "Preparação Física". No seu artigo, citou exemplos trágicos ocorridos no Exército Brasileiro, mas a FAB e a Marinha também possuem esses tristes números, na sua maioria, envolvendo alunos da Escola Naval, Colégio Naval, EPCAR e AFA. Sabemos que as três Forças não possuem um padrão único de atividades físicas para seus militares, então, por que ocorrem essas semelhanças de óbitos durante atividades físicas e treinamentos? Talvez, uma visão mais ampla precise ser feita...

Sabemos que a atividade militar exige (ou deveria exigir) um padrão psicológico, físico, médico e de conhecimentos técnicos além do que pode ser encontrado na sociedade comum (por assim dizer). Todavia, é patente que os processos seletivos impostos para o ingresso, assim como, seus exames médicos obrigatórios estão, na minha óptica, muito aquém do que deveria ser cobrado. Nas três Forças Armadas, sem exceção, os exames médicos de ingresso e a anamnese são feitos de forma rudimentar. Muitos males, tais como: pressão alta, arritmia cardíaca, hérnias etc. só são descobertos por militares quando a situação se torna bem mais crítica, ao invés de serem detectados ainda no processo de seleção. Exames mais rigorosos mostrariam o que deveria ser feito para combater o mal e não apenas usar artifícios paliativos. O engraçado é que, em se tratando de exames para piloto de avião/helicóptero, forças especiais, mergulhadores, paraquedistas e escafandristas o nível de exigência e tipos dos exames médicos são completamente diferentes. O senhor bem disse em seu texto que a obesidade mundial representa um dos vilões desta história toda, entretanto, s.m.j., é muito difícil encontrarmos um militar, que se inclui neste grupo menor de atividades especiais militares, obeso ou com falta de preparo físico, pelo contrário, conheço alguns oficiais generais que exibem disposição e condicionamento por vezes superiores aos mais jovens. Não acredito que estes militares possuam algum dom mágico ou predestinação para desempenharem atividades especiais, mas sim, que o processo seletivo e os exames complementares exigidos são bem mais rigorosos.

O Brasil é um país de contrastes e a saúde, educação e alimentação sadia nunca foram assuntos muito privilegiados por nossos governantes. Como podemos exigir de nossos militares um desempenho físico, intelectual e médico de altos níveis quando nossa base de alimentação é completamente fora dos padrões necessários?  Nos quarteis, embora haja sempre vozes que alegam que os cardápios passam pelas mãos de nutricionistas, a alimentação oferecida está sempre ligada ao binômio "MAIS BARATO X MAIS SOBRA LÍCITA". Excesso de gordura, fritura, sucos industrializados, carência de diversidade de frutas etc. Logicamente que o resto do Brasil, como um todo, possa se alimentar do mesmo jeito, porém, na sua grande maioria, não são exigidos em suas plenitudes como os militares os são. Esse é o ponto. Em geral, durante um dia de expediente normal, nossos militares gastam apenas cerca de uma hora em prol de atividades físicas e o restante do tempo enfurnados em salas fechadas gerenciando o setor administrativo. Penso que isso deveria ser o contrário. Artes marciais, treinamento físico de qualidade, cursos específicos, acompanhamento médico-psicológico, dentre outros, deveriam ser prioridade durante o período de expediente normal, mas não são. Assim, quando "alguém se lembra" que é preciso formar novas turmas ou fazer testes anuais, começa a correria e os militares, em grande parte debilitados de alguma forma, são exigidos ao máximo por pessoas que, nem sempre, detém o preparo adequado para tais funções. O resultado é esse que o senhor apresentou: mortes durante treinamentos em tempos de paz. O senhor também percebeu que tais óbitos ocorrem, na maioria, com aspirantes, cadetes ou alunos sendo preparados para serem oficiais, assim como, forças especiais? Intrigante, não acha?

Certa vez, li uma reportagem que falava sobre as mulheres que servem ao Exército de Israel. Mostrou-se o tipo de treinamento delas, que era o mesmo aplicado aos homens. Arrisco a dizer que boa parte dos militares brasileiros não consegue ter o desempenho militar que as mulheres israelenses apresentam. Sabendo-se que Israel é um país que merece o respeito do mundo no que diz respeito às artes bélicas, podemos afirmar que as mulheres de lá são super-humanos? Óbvio que não. Talvez a diferença esteja justamente no modo de preparação e escolha de prioridades para o treinamento de seus militares.

Andando pelos vários quartéis brasileiros, é fácil observar que uma grande maioria não tem a higidez física e preparo psicológico para enfrentar um combate "amanhã". Até porque, conhecendo o histórico do Brasil no cenário mundial, não sofremos ameaças bélicas de outros países, como é o caso de Israel, EUA, Inglaterra etc. Os militares brasileiros vivem na latência de serem chamados para ocupar um morro ou fazer segurança de atividades políticas ou ajudar na segurança do carnaval de Salvador. Enquanto isso, o nosso preparo está cada vez pior e, infelizmente, continuaremos a ver que esses óbitos em tempos de paz, para muitos, tratam-se apenas de mais um número a ser substituído numa lista de computador. Tenho a convicção de que, em caso de uma possível guerra, estas ocorrências seriam muito maiores e os óbitos por falta de preparo adequado atingiriam valores alarmantes. Por isso, peço sempre a Deus:    " Livrai-nos da Guerra".

Parabéns por sua iniciativa em expor para a sociedade este quadro negro de nossas FFAA.

Cordialmente,

JPTR

domingo, 19 de maio de 2013

O Medo da Morte


 
A recente manifestação pública da famosa atriz Angelina Jolie, símbolo sexual e de beleza feminina internacional, revelando sua decisão radical de realizar a retirada de ambos os seios (cirurgia de mastectomia preventiva), por sua alta probabilidade congênita de desenvolver câncer de seio, em razão do seu histórico familiar, traz a lume o mais terrível temor da vida humana – O Medo da Morte. Porque a Morte é o futuro inescapável de todos.

Você quer conhecer o futuro?

Se quiser aprofundar essa questão, então leia “Felicidade & Verdade”.

sábado, 18 de maio de 2013

Abin x Patrocínio de operações ilegais

Estado de Minas (MG) - 07/01/2007
Operações ilegais de espionagem  "Quatro diretores da Abin e um suposto espião alemão radicado no Brasil são as mais recentes vítimas da disputa interna que se instalou no órgão. Desde o final do ano passado, uma denúncia anônima contendo informações confidenciais da Abin tem sido enviada a um seleto grupo de embaixadas estrangeiras, instituições e personalidades. Não é possível saber se é verdadeiro o conteúdo das informações contidas na denúncia. Uma coisa, porém, é certa: o vazamento de dados sigilosos mostra que a direção do serviço secreto não domina inteiramente seus subordinados.
A denúncia anônima originou-se de um fato concreto. Segundo apurou o Estado de Minas, no ano passado o setor de contra-inteligência da Abin começou a monitorar o alemão Bernhard Jankowsky, suspeito de ser um espião alemão radicado no Brasil. Numa das missões, o agente da Abin encarregado de vigiar Jankowsky viu o alemão se encontrando com o número dois da Abin, o diretor-adjunto da agência, José Milton Campana.
 A princípio, por mais que pareça contraditório, podem ser consideradas missões típicas da Abin tanto o monitoramento de Jankowsky quando o encontro de Campana com o alemão. Afinal, entre as funções da agência estão as de investigar possíveis espiões estrangeiros e, ao mesmo tempo, buscar informações com informantes, mesmo que eles sejam espiões de outros países.
Não é, entretanto, o que diz a denúncia anônima. A mensagem afirma que Jankowsky faz "operação ilegal e clandestina de espionagem no Brasil e em países da América do Sul, patrocinadas pela Abin". As operações, de acordo com a denúncia, seriam financiadas por meio de duas contas correntes do Banco do Brasil, cujos números são citados na mensagem. Ainda de acordo com a denúncia anônima, as supostas operações de espionagem do alemão são conduzidas por quatro diretores da Abin: José Milton Campana, Thélio Braun D"Azevedo, Carlos Cabral Calvano e Ronaldo Martins Belham.
Um fato não deixa dúvidas de que o autor da denúncia é um agente da Abin. Junto a mensagem, foram anexadas as fichas funcionais dos quatro diretores citados. Tratam-se de documentos da Abin que saíram dos arquivos secretos da agência e foram parar na internet.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão da Presidência da República ao qual a Abin é subordinada, não quis se manifestar sobre o episódio. A reportagem não conseguiu localizar Bernhard Jankowsky.
CULTURA MILITAR O presidente da Associação dos Servidores da Abin (Asbin), Nery Kluwe, afirma que a subordinação da Abin ao GSI é o ponto central do descontentamento de parte dos agentes do órgão. "A Asbin quer a Abin fora do GSI. O GSI (antiga Casa Militar) tem uma cultura militar, e a Abin é um órgão civil. Queremos ficar subordinados diretamente à Presidência da República, à Casa Civil ou mesmo ao Ministério da Justiça", afirma Kluwe.
Segundo ele, a atual direção da Abin vem implantando uma cultura militar à agência. Ele cita como exemplos a instituição de um hino - cantado em eventos internos -, a mudança na nomenclatura dos cargos (o diretor-geral, por exemplo, é chamado de comandante de inteligência) e a adoção do carcará, parente distante dos falcões, como símbolo da agência. "Existem hoje cerca de 300 analistas da Abin contratados por concurso público que estão de saco cheio, não aguentam mais esse negócio de hino e carcará", afirma Kluwe

terça-feira, 9 de abril de 2013

Exôdo na caserna


Exôdo na caserna

Autor(es): Carlos Alexandre
Correio Braziliense - 09/04/2013
 

O êxodo de oficiais das fileiras militares, revelado domingo no Correio, expõe problema gravíssimo do funcionalismo público e denota a fragilidade das ambições do governo brasileiro em exercer um papel relevante na comunidade internacional. A defasagem salarial em relação à iniciativa privada, motivo que contribui sensivelmente para a fuga de talentos na elite militar nacional, se soma às dificuldades de ascensão na carreira, problema recorrente mesmo no funcionalismo civil.
É desalentador saber que cinco anos de dedicação exclusiva à carreira, com seguidos deslocamentos com a família para diferentes cidades, resultam em acréscimo de R$ 594,74 no contracheque de um oficial formado nas melhores escolas do país. Preocupa igualmente o protesto de integrantes da reserva contra a influência política na escolha das mais altas patentes das Forças Armadas. "Ninguém assume isso lá dentro, mas o fato real é que, além do mérito, a questão política é um fator fortíssimo para um coronel ascender a general", queixou-se um oficial ao Correio, sob condição do anonimato. Quem conhece um pouco do cotidiano de Brasília sabe que a indicação, muitas vezes, se impõe sobre os méritos na Esplanada.
Historicamente, os militares têm sido uma das categorias mais penalizadas pelas distorções na administração pública federal. As dificuldades vão além dos soldos diminutos e se estendem para o maquinário obsoleto. É de conhecimento público que o Brasil está longe de representar uma força militar expressiva no contexto internacional. Operações como a ação humanitária no Haiti e o combalido projeto na Antártida são credenciais insuficientes para o postulante a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A ascensão do Brasil para um patamar de grandeza na comunidade internacional passa necessariamente por maciços investimentos na formação e na retenção de talentos da caserna, bem como na modernização das nossas forças militares.
Convém ressaltar que há uma série de problemas transnacionais a desafiar a eficiência dos nossos militares. Para citar apenas dois, registre-se o tráfico de drogas nas fronteiras brasileiras e as missões conjuntas em regiões de conflito. A qualificação das Forças Armadas constitui uma prioridade, especialmente no momento em que as atenções mundiais estarão voltadas para cá ao longo dos próximos anos.

DESENCANTADA, ELITE MILITAR APOSENTA A FARDA


DESENCANTADA, ELITE MILITAR APOSENTA A FARDA

FUGA DE TALENTOS NA ELITE MILITAR
Correio Braziliense - 07/04/2013

Baixa remuneração e demora de ascensão na carreira estão entre os motivos para a fuga de oficiais formados em escolas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. O setor privado e até o serviço público estão mais atraentes. A debandada de especialistas preocupa as Forças Armadas.

Enquanto o governo brasileiro centra as atenções da Estratégia Nacional de Defesa no reaparelhamento do Sistema de Defesa Nacional, as Forças Armadas se deparam com uma evasão sem precedentes em seus quadros técnicos. A elite dos oficiais formados nas escolas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica está optando cada vez mais por deixar a vida militar em busca de melhores salários e oportunidades de crescimento profissional na iniciativa privada e no funcionalismo público civil. Só em 2012, 245 oficiais militares deixaram as instituições. É como se um oficial deixasse o contingente militar brasileiro a cada dia útil do ano. Foi o maior volume de pedidos de demissão registrados entre militares do círculo de oficiais desde 2006. Só nos primeiros três meses deste ano, o Diário Oficial da União registrou a saída de outros 54 oficiais.
A fuga de cérebros das Forças Armadas cresce no momento em que o país vê com preocupação crescente a questão da defesa de fronteiras e de seus recursos naturais, sobretudo em função da descoberta de jazidas de petróleo na camada pré-sal. A perda de capital humano com a migração de militares para a iniciativa privada se soma ao prejuízo financeiro para o Estado. Cálculos extraoficiais estimam que a formação de um piloto da Aeronáutica custe em torno de R$ 1,2 milhão aos cofres públicos, incluindo não só o preço das horas-aula, mas também o internato do aluno, as horas de voo e o combustível das aeronaves utilizadas no treinamento.
Por conta disso, o oficial que pendura a farda é obrigado a pagar à União uma indenização inversamente proporcional ao seu tempo de permanência na Força. O interesse nesses especialistas é tão grande que, não raro, a empresa que contrata o ex-militar assume o valor da multa. Não repõe, contudo, a perda de um profissional intensamente treinado, com conhecimento profundo de questões estratégicas para o país.
Fontes ouvidas pelo Correio na ativa e na reserva atestam a preocupação existente no comando das três Forças, que têm investido em estudos para detectar o motivo de profissionais altamente qualificados abandonarem a estabilidade de uma carreira militar, mesmo com o clima de incerteza na economia. Falham em perceber que a defasagem dos salários em relação à iniciativa privada é o principal motivo para o abandono da farda.
Essa discrepância salarial é bem ilustrada na carreira de piloto, um dos alvos principais dos caça-talentos que miram nas turmas que se formam todos os anos em escolas militares de alto nível, como a Academia da Força Aérea (AFA). Um coronel da Aeronáutica, topo da hierarquia do círculo de oficiais superiores da Força, se aposenta com vencimentos líquidos da ordem de R$ 9,3 mil, aí incluídos o soldo e os adicionais relativos à habilitação do militar e, nos casos pertinentes, à permanência de três anos além dos 30 anos mínimos para o encerramento do ciclo de sua patente. Um piloto de helicóptero trabalhando para empresas de voo offshore — segmento em franca expansão por conta da exploração de bacias do pré-sal — ganha um salário médio de R$ 25 mil, mais uma série de benefícios.
Desmotivação
A lentidão com que se galga postos na carreira militar é outro fator que tem contribuído para desmotivar as gerações mais jovens de militares. Depois de passar pela academia e receber a patente de segundo-tenente, um militar do Exército, por exemplo, leva em média dois anos para chegar a primeiro-tenente. Seu vencimento líquido sobe, em valores atuais, de R$ 5.348,28 para R$ 5.509,07. Serão mais três anos para ascender ao posto de capitão, ganhando R$ 5.943,02 por mês. Ou seja, em cinco anos de carreira com dedicação exclusiva, podendo ser deslocado periodicamente de cidade com toda a família, um oficial do ciclo subalterno vê o salário aumentar apenas R$ 594 ,74.
A dificuldade de um militar das áreas-meio — como engenheiros, pilotos e médicos — aos postos do círculo de oficiais-generais é outro ponto citado com frequência como um desestímulo para esses profissionais permanecerem nos quadros das Forças Armadas. "Ninguém assume isso lá dentro, mas o fato real é que, além do mérito, a questão política é um fator fortíssimo para um coronel ascender a general. E essa regra não é válida só no Exército. É o mesmo na Marinha e na Aeronáutica", diz um oficial da reserva que pediu anonimato.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Evasão de talentos na inteligência militar


FORÇAS ARMADAS
Evasão de talentos na inteligência militar 
Seduzidos pelos altos salários em empresas e insatisfeitos com a demorada ascensão na carreira, oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica têm aposentado a farda

Jornal Estado de Minas
Karla Correia
Publicação: 07/04/2013 04:00


Victor Dalton deixou o Exército e conseguiu emprego com melhor salário depois de passar num concurso  (Carlos Moura/CB/D.A PRESS
)
Victor Dalton deixou o Exército e conseguiu emprego com melhor salário depois de passar num concurso 



Brasília – Enquanto o governo brasileiro centra as atenções da Estratégia Nacional de Defesa no reaparelhamento do Sistema de Defesa Nacional, as Forças Armadas se deparam com uma evasão sem precedentes em seus quadros técnicos. A elite dos oficiais formados nas escolas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica está optando cada vez mais por deixar a vida militar em busca de melhores salários e oportunidades de crescimento profissional na iniciativa privada e no funcionalismo público civil. Só em 2012, 245 oficiais militares deixaram as instituições. É como se um oficial deixasse o contingente militar brasileiro a cada dia útil do ano. Foi o maior volume de pedidos de demissão registrados entre militares do círculo de oficiais desde 2006. Só nos primeiros três meses deste ano, o Diário Oficial da União registrou a saída de outros 54 oficiais.



A fuga de cérebros das Forças Armadas cresce no momento em que o país vê com preocupação crescente a questão da defesa de fronteiras e de seus recursos naturais, sobretudo em função da descoberta de jazidas de petróleo na camada pré-sal. A perda de capital humano com a migração de militares para a iniciativa privada se soma ao prejuízo financeiro para o Estado. Cálculos extraoficiais estimam que a formação de um piloto da Aeronáutica custe em torno de R$ 1,2 milhão aos cofres públicos, incluindo não só o preço das horas-aula, mas também o internato do aluno, as horas de voo e o combustível das aeronaves utilizadas no treinamento. Por conta disso, o oficial que pendura a farda é obrigado a pagar à União uma indenização inversamente proporcional ao seu tempo de permanência na força. O interesse nesses especialistas é tão grande que, não raro, a empresa que contrata o ex-militar assume o valor da multa. Não repõe, contudo, a perda de um profissional intensamente treinado, com conhecimento profundo de questões estratégicas para o país.

Fontes ouvidas pelo Estado de Minas na ativa e na reserva atestam a preocupação existente no comando das três forças, que têm investido em estudos para detectar o motivo de profissionais altamente qualificados abandonarem a estabilidade de uma carreira militar, mesmo com o clima de incerteza na economia. Falham em perceber que a defasagem dos salários em relação à iniciativa privada é o principal motivo para o abandono da farda.

Essa discrepância salarial é bem ilustrada na carreira de piloto, um dos alvos principais dos caça-talentos que miram nas turmas que se formam todos os anos em escolas militares de alto nível, como a Academia da Força Aérea (AFA). Um coronel da Aeronáutica, topo da hierarquia do círculo de oficiais superiores da força, se aposenta com vencimentos líquidos da ordem de R$ 9,3 mil, aí incluídos o soldo e os adicionais relativos à habilitação do militar e, nos casos pertinentes, à permanência de três anos além dos 30 anos mínimos para o encerramento do ciclo de sua patente. Um piloto de helicóptero trabalhando para empresas de voo offshore – segmento em franca expansão por causa da exploração de bacias do pré-sal – ganha um salário médio de R$ 25 mil, mais uma série de benefícios. 


Desmotivação

A lentidão com que se galgam postos na carreira militar é outro fator que tem contribuído para desmotivar as gerações mais jovens de militares. Depois de passar pela academia e receber a patente de segundo-tenente, um militar do Exército, por exemplo, leva em média dois anos para chegar a primeiro-tenente. Seu vencimento líquido sobe, em valores atuais, de R$ 5.348,28 para R$ 5.509,07. Serão mais três anos para ascender ao posto de capitão, ganhando R$ 5.943,02 por mês. Ou seja, em cinco anos de carreira com dedicação exclusiva, podendo ser deslocado periodicamente de cidade com toda a família, um oficial do ciclo subalterno vê o salário aumentar apenas R$ 594,74.

A dificuldade de um militar das áreas-meio – como engenheiros, pilotos e médicos – aos postos do círculo de oficiais-generais é outro ponto citado com frequência como um desestímulo para esses profissionais permanecerem nos quadros das Forças Armadas. “Ninguém assume isso lá dentro, mas o fato real é que, além do mérito, a questão política é um fator fortíssimo para um coronel ascender a general. E essa regra não é válida só no Exército. É o mesmo na Marinha e na Aeronáutica”, diz um oficial da reserva que pediu anonimato.




Plano

Na tentativa de conter a sangria de talentos, o governo tem realizado estudos para melhorar o plano de carreira das Forças Armadas. O reajuste de 30% concedido pela presidente Dilma Rousseff em 2012, dividido em três parcelas até 2015, já seria uma amostra da investida do Palácio do Planalto em evitar uma debandada maior de recursos humanos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Mas a principal estratégia do governo em segurar cérebros formados pelas escolas militares está no investimento em centros de excelência. No ano passado, a empresa Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul) foi criada como a 126ª estatal brasileira. Vinculada à Marinha, a estatal será responsável pelo Programa Nuclear da Marinha Brasileira, o que inclui, entre outros projetos, a construção do primeiro submarino movido a propulsão atômica do país.



Uma queixa que não quer calar


Formado em engenharia da computação pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) em 1995, André Gustavo de Albuquerque não pestanejou em largar o posto de primeiro-tenente do Exército e buscar melhores oportunidades na iniciativa privada assim que recebeu o diploma do centro de excelência do Exército. “As Forças Armadas não valorizam o engenheiro militar, mesmo que tenha investido em sua formação. Qualquer um da minha turma teria mais chances de conquistar boas posições na profissão fora do Exército”, diz André, que hoje é engenheiro de sistemas sênior na multinacional de tecnologia Cisco Systems.


Na época, o engenheiro prestou concurso público para evitar pagar a indenização à União por deixar as Forças Armadas antes de cumprir o período de cinco anos equivalente à média do círculo de oficiais subalternos do Exército (segundo-tenente e primeiro-tenente). “Seria perda de tempo esperar”, argumenta Albuquerque, hoje com 39 anos. “Além de enfrentar a pressão de ser obrigado a mudar para outras cidades à revelia, o salário baixo é uma realidade que afugenta. Sem falar que a chance de se chegar a general é praticamente nula para um engenheiro”, salientou.

Também formado pelo IME em engenharia da computação, Victor Dalton deixou o Exército, mas preferiu a estabilidade do serviço público à iniciativa privada. Passou 10 anos na força, serviu em Manaus, no Rio de Janeiro e em Brasília, mas não resistiu à oportunidade de prestar concurso para a Câmara dos Deputados. “Quando eu passei, meu tio, que é general aposentado, fechou a cara. Ficou chateado mesmo, mas depois se conformou”, lembra Dalton. “Tenho muito orgulho de ter pertencido ao Exército, mas o serviço público me garantiu um salto remuneratório que eu nunca teria lá. É difícil resistir”, diz. “Para você ter uma ideia, são sete especialidades em que os oficiais se formam na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). Dos sete melhores de cada turma, na minha geração, apenas dois continuam no Exército. E um está pensando seriamente em sair”, conta Dalton. As mudanças constantes e a dificuldade de sua mulher, Anna Meirelles, migrar de emprego em emprego a cada cidade nova pesaram na decisão do servidor.