quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O eterno retorno

Artigo de André Soares - 17/12/2010

Orientação é uma competição de origem militar, muito pouco conhecida no Brasil, embora também seja desconhecido no país que nossas Forças Armadas possuam a excelência dos melhores atletas do mundo. Esta competição consiste em que o atleta, inserido numa área desconhecida, consiga, no menor tempo possível, localizar-se no terreno e a partir daí encontrar vários pontos, que lhe são indicados num tipo de mapa, denominado de carta, e com o auxílio de uma bússola.
Numa dessas competições, um determinado atleta, deslocando-se pelo terreno e orientando-se na sua carta e bússola encontrou um dos pontos da competição. Satisfeito por estar corretamente orientado no terreno e com boas chances de vitória, partiu confiante para encontrar o próximo ponto, seguindo o melhor percurso que prontamente identificou. Apesar da dificuldade encontrada, perseverou e o encontrou. Contudo, no momento em que assinalava sua passagem por aquele ponto e já partia ainda mais confiante para o próximo, ouviu um breve comentário do fiscal de prova que ali estava camuflado e escondido, que o deixou literalmente apavorado.
Disse-lhe o fiscal:
“O Sr já passou por aqui.”
Nesse instante, desabou sobre o referido atleta um sentimento de desespero, insegurança e desorientação, pois ele se conscientizou que, ao contrário de estar orientado como imaginava, na verdade ele esteve todo o tempo completamente perdido e equivocado, pois o novo ponto que ele acreditou ter encontrado era exatamente o mesmo ponto do qual havia partido. E se não fosse a advertência do fiscal, ele ainda estaria iludido e perdido na sua própria ignorância, não sabendo sequer que estava exatamente no mesmo lugar de onde nunca havia saído.
Porém, ainda mais perturbadora que a situação vivida pelo referido atleta em sua competição é descobrir que ela é apenas uma pequena reprodução do que acontece na vida real. Na verdade, doutrinas filosóficas muito consistentes demonstram que a vida não passa de um eterno retorno, exatamente como no equívoco do atleta.
Considerando as ingentes conseqüências para as nossas vidas que essa doutrina possa causar, caso verdadeira, é de bom alvitre, portanto, que se tenha a coragem de investigá-la. Porque se a vida for verdadeiramente um eterno retorno, somente as pessoas que tiverem a exata consciência dessa condição terão alguma chance de melhores auspícios. Porquanto muito pior do que saber-se perdido é viver perdido e não saber. Pois, no percurso inexorável da vida real não há fiscais de prova.
 

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