quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O jeitinho brasileiro

O jeitinho brasileiro 
Recentemente, quatro grandes tremores de terra repercutiram no mundo por suas tragédias, no Haiti, no Chile, na China e no Brasil. Entre eles, em comum, o elevado número de mortos. A diferença, entretanto, é que se os terremotos no Haiti, Chile e China foram causados por forças imprevisíveis da natureza, já os “terremotos” ocorridos no Brasil em Angra dos Reis e nos morros pobres do Rio de Janeiro e Niterói foram causados pela ação dos brasileiros.
“O Brasil não é um país sério” é uma frase supostamente atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle, que curiosamente encontrou mais ressonância entre os próprios brasileiros que na comunidade internacional. Embora evidentemente ninguém, muito menos De Gaulle, assumiria essa autoria, trata-se de uma referência à nossa cultura que ecoa profundamente na consciência de quem conhece o Brasil.
Embora todos saibam que é mera questão de tempo para uma edificação instável ruir se não for oportunamente reformada, parece que a sociedade adotou essa engenharia suicida para o país, pois o Brasil necessita de urgentes reformas que nunca são feitas. São praticamente todas, como as reformas política, agrária, previdenciária, da educação, das forças armadas, da saúde, eleitoral, constitucional, do sistema prisional, do judiciário, da segurança pública, dos transportes, no saneamento básico, na infra-estrutura, trabalhista, ambiental, etc.
Governos após governos, são décadas e décadas de descaso, procrastinação e irresponsabilidade generalizadas, com uma miríade de deficiências estruturais e vulnerabilidades nacionais, que levam o nosso país doente para a UTI, não por estar acometido de uma enfermidade mortal, mas por várias. Nessa grave conjuntura nacional há culpa para todos e não apenas para os políticos e governantes como se adora alardear.
Os brasileiros são reconhecidos indubitavelmente como um dos povos mais criativos do planeta. Entretanto, ao invés de empregarmos nossa magnífica criatividade na busca de soluções nacionais, degeneramos essa virtude para transformar o Brasil no país dos paliativos, onde impera uma subcultura infeliz – o “jeitinho brasileiro”.
O Brasil não implementa soluções para os seus graves problemas porque “tem jeitinho prá tudo”. Esse lema nacional é a principal causa do acúmulo de enormes passivos, cujo ônus político nenhum governo tem a coragem de enfrentar, pois sempre encontram um “jeitinho” prá eles. Assim, demos um “jeitinho” na constituição, nas questões agrária, previdenciária, política e eleitoral. Estamos dando um “jeitinho” nas forças armadas, saneamento básico, transportes, meio-ambiente; e já não conseguimos mais “jeitinho” para a infra-estrutura, educação, saúde, sistema prisional, segurança pública, dentro outros. Com o advento das recentes tragédias, atualmente estamos priorizando dar um “jeitinho” no mais novo produto genuinamente brasileiro – as favelas. Estas alcançaram tamanhas proporções que já se institucionalizaram no país, recebendo enorme assédio do turismo internacional, e já são um dos principais cartões postais do Brasil, ao lado das praias, do futebol, do carnaval e da Amazônia.
Todavia, nem argumentos, nem tragédias, nem o sofrimento latente particularmente dos brasileiros mais pobres têm ensejado auto-reflexão e maturidade à sociedade brasileira para evoluirmos a uma cultura e mentalidade de soluções; pois prevalece majoritário o otimismo irresponsável daqueles que afirmam estar o país predestinado aos melhores auspícios da bem-aventurança. Resta, portanto, rezar para que estejam certos e, confiando que “Deus é brasileiro”, desejar que essas sucessivas tragédias que estamos sofrendo no país não sejam um sinal divino de que Ele tenha mudado de idéia.

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